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quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Artesanato e prazer

Adoro trabalhar com tecidos e outros elementos de armarinho. Quando consigo juntar a eles os papéis, as tintas e os pincéis, esqueço do mundo. Esse prazer é muito antigo.  Começou na infância, no bazar de  meu pai.  O nome do bazar era "Casa do Amigo" e ficava em Piedade, do lado de cá, perto da estaçao de trem .  Eu simplesmente adorava aquele bazar/armarinho repleto de vários tipos de papéis, retrozes, meadas de linha, novelos, botões, brinquedos. Conheço cada material de armarinho pelo nome certo.  Ele me ensinou.  No carnaval tínhamos lá também confetes, serpentinas e lança-perfume Rodouro. 

Xiii... acho que vou ter que dar algumas explicações aqui. Vamos a um pequeno atalho.

Lança-perfume não era proibido na época.  Outra coisa.  Talvez vocês tenham estranhado o fato de eu me referir à localização do armarinho como " do lado de cá".  Quem nasceu e morou em Piedade nunca teve dúvidas com relação à localização do "lado de cá".  Lá você pode estar do lado de lá e falar que mora do lado de cá e todo mundo saberá a que lado você está se referindo.  OK... vou explicar para os não nativos.  O que divide os lados é a linha de trem da Central do Brasil e o lado de cá é o que tinha a Universidade Gama Filho.  O outro é o lado de lá, obviamente! Ai, ai... a gente tem que explicar tudo pra esse povo que não é suburbano, rsrsrsrsrsrsr.

Voltando ao artesanato.

A coisa começou no armarinho ajudando meu pai a empacotar presentes no Natal e a cobrir botões.  Naquela época era moda fazer blusas e vestidos com uma enorme carreira de botões cobertos pelo mesmo tecido do vestido. Quando os botões eram grandes , ele mesmo cobria, mas quando o freguês pedia 100 botões muito miudinhos, o meu velho não suportava e me pedia socorro.  Eu ia lá para trás da lojinha e passava a tarde cortando tecido e cobrindo botões. Eu a-do-ra-va fazer aquilo.  Essa paixão entrou pelas aulas de trabalhos manuais no primeiro gráu e foi recuperada com Joãozinho Trinta lá pelos meus 18 anos,  quando fizemos bonecos de papier mâché  para um teatrinho que íamos fazer para as crianças. Depois disso houve um longo hiato de vida adulta, trabalho, filhos, etc onde só a música foi possível fazer, mas foi ótimo também. Os trabalhos manuais ficaram restritos às fantasias do filho para as festas da escola e à decoração dos aniversários. Não tinha tempo para mais nada.

Alguns anos atrás, já com o filho adulto, redescobri o  prazer na loja "Flowers on Time" das minhas amigas Mariazinha e Verinha, lá no Shopping Itanhangá.  Elas são campeães ! Comecei fazendo caixinhas por pura curiosidade e vontade de ficar perto das mestrinhas que, além de boas Professoras, sao companhias agradabilíssimas. Depois comecei a fazer com elas outras coisas. Hoje são amigas de todas as horas .  Eu as amo apaixonadamente. Passei muitas horas agradáveis por lá e até hoje , de vez em quando , volto para uma aulinha extra para matar as saudades e aprender novas coisas.  Elas tem sempre algo novo a me ensinar e eu lhes sou muito grata por isso.

Certa vez, quando saía de casa para comprar material para fazer umas caixinhas, torci o pé numa elevação de asfalto quando ia entrar no ônibus que me levaria à Pça Saens Pena.  Eu morava na Tijuca nessa época. Sabe aqueles monturos de asfalto mal recapeado próximos aos pontos de ônibus ? Pois é,  foi num desses. O que eu conheço de gente que já se acidentou neles, é uma enormidade. 
A torção foi feia. O resultado do descaso da Prefeitura me rendeu muitas despesas médicas e 6 meses em casa com o pé engessado e em absoluto repouso.

Sem condições de sair de casa, decidi fazer uma deliciosa limonada com o limão que a vida me deu.  Coloquei um carrinho de chá ao lado da cama com caixas para pintar na parte de baixo e tintas e pincéis em cima. Pedi ao meu filho que comprasse algumas coisinhas que faltavam e o resultado foi uma série de caixinhas que durante quase um ano fui dando de presente para os amigos.  Foi um dos períodos da minha vida de maior produção de caixinhas.

Depois dessa primeira fase, comecei a preparar alguns objetos inspirados na obra de Aldir Blanc, para o espetáculo "Aldir à Vera"  , em aulas de objeto e escultura com a Professora Lia do Rio. Na interseção dos dois espaços nasceram as caixinhas poéticas.  Elas tinham a foto dos objetos que eu fiz para o espetáculo na tampa e, no verso dela, a letra que as inspirou. Foi outra febre. Dei uma de presente para o Aldir, outra para a Mariana Blanc , Diretora Geral do espetáculo, outra para a Mari, a esposa dele e sorteei outras para o público durante a temporada. Adoro presentear o público com minhas caixinhas.
É um pedacinho desses meus deliciosos momentos de alegria e paz que deixo com eles.

Depois delas comecei a criar caixinhas com meus próprios versos, inventei diferentes figuras e tirinhas para  acabamentos feitas no photoshop e outros softwares que fui aprendendo , enfim... a paixão me pegou.  Por causa delas, decidi evoluir para usar minhas próprias fotos. Com isso me inscrevi num curso básico de Fotografia quando estava no Canadá e estou prosseguindo o aprendizado aqui no Brasil no Atelier da Imagem. A fotografia me pegou pra valer também e no momento estou mergulhada nela.  Voltarei já, já e com mais vigor para o artesanato. Esse atalho foi bom, pois me permitiu escoar a produção que foi imensa , especialmente no período em que fiquei "de molho" em casa.  

Minha vontade de fazer artesanato sempre retorna quando sinto necessidade de descansar a mente.
O prazer de me mover entre tecidos, tintas , pincéis e papéis buscando soluções, experimentando, recortando figuras , me lambuzando, não tem preço.  Depois das caixinhas , comecei a fazer também abajures ,  caderninhos, vasinhos para as minhas plantas, armários, arcas, galeteiros, braceletes de feltro ... uma distração sem fim.

Aí vao algumas fotos dessas brincadeiras iniciais com ou sem poesias associadas. As fotos também são bem antigas, antes de eu ouvir falar em ISO , diafragma, obturador, profundidade de campo, essas coisas ... rsrs. Agora já ouvi falar nelas, mas estou ainda longe de fazer a máquina fotográfica obedecer às intenções imagéticas que tenho na cabeça.

No final da postagem incluí também algumas fotos do meu principal Ajudante feitas mais   recentemente . O nome dele é  Mel e ele faz muitas intervenções criativas.  Quando nao está criando, dorme ou brinca entre os materiais preferidos , geralmente nas horas mais impróprias, rsrsrsrssr.


Beijo procês.

Caixinha de bijuterias




Caixinha para guardar fumo e cachimbos, com figuras em relevo.  Dei de presente para o meu Terapeuta na época.
 
 Caixinha em formato de livro
 Caixinha de costura com figuras em relevo.
 Dei de presente também. Foi feita muito no
 início da minha febre de caixinhas . Importante       aqui foi que comecei a introduzir as tirinhas de       acabamento feitas em casa. Antes eu as
      comprava nas lojas de artesanato.





 Caixa de costura.  Na tampa, em relevo,  um bouquet feito de fecho-eclair, botões, linhas , colchetes e alfinetes.
Caixinha com imagem de uma cozinha country com figuras em relevo.  A figura ganhei de alguém, fiz apenas as tirinhas de acabamento , os relevos e o craquelê.   Dei de presente para a mana.












Caderninhos forrados de tecido. Presenteei muitos amigos com eles.

Caixinha e bloco de notas inspirados  na música
"O bêbado e a equilibrista" de Aldir Blanc e João Bosco. A letra vai no verso da tampa. Dei de presente para o Aldir após a realização do espetáculo em homenagem aos seus 60 anos. Ele adorava um bloco.  












Essa preta com pequenos bordados dourados e uma borboleta em lantejoulas na tampa, foi inspirada num verso meu: "Quando saí do nocaute, estava num breu, mas bordado!". Dei de presente para minha amiga Mariana Blanc, Diretora Geral do espetáculo de 60 anos que fizemos para Aldir. 








 
Essa com imagem de mulher na tampa foi inspirada num verso de Aldir : "Que não seja eu que, ao te amar, te martirize".  Dei de presente para a querida Mari no final do espetáculo dos sessenta anos de Aldir. 











Esse movelzinho era bem antigo. Ganhei de minha amiga Cristina e dei uma decupada nele. Hoje mora na varanda do apartamento novo. 
Essa é para guardar remédios e foi inspirada na música Beguine Dodói de João Bosco, Aldir Blanc e C. Tolomei.  A foto é de um objeto que fiz com base em gesso, gaze e bolinhas de algodão para o espetáculo "Aldir à Vera". 








Essa caixinha e esse bloco de notas foram    inspirados na música "O Mestre Sala dos Mares", de João Bosco e Aldir. A foto é do objeto de mesmo nome feito para o espetáculo "Aldir à Vera". Já falei dele antes aqui no blog. A letra vai no verso da tampa.
Jarrinhos de plantas para área externa






Galeteiros feitos com garrafinhas de cerveja.

Braceletes de feltro feitos por mim e pela norinha.






Capinha para celular
 


 
MEL, meu hiperativo  gato de beco que virou auxiliar  de criação e adora tecidos, meadas e novelos.
Quando não está criando, brinca e dorme entre seus materiais preferidos. Gato amaaaaaaado.


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Um close  só para testar a nova lente macro
  

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Serpentina de Ano Novo

...os verdadeiros versos não são para embalar,
mas para abalar... (Mário Quintana).


Aconteceu aqui em casa. 2010 pousou na minha vida para abalar.  Metade dele no Canadá, metade cá, sem contar que 2009 foi praticamente todo lá.  Zuenir diz que o  Rio é uma Cidade Partida. Uma cuca partida numa cidade partida, tinha que dar no que deu, estou mais sacudida que cigarro em boca de bêbado.   Não tenho postado nada desde que cheguei do Canadá, mas começo lentamente a retomar os caminhos do blog.  Esse início foi para aprender.  As modificações dele estão a caminho.

Mudanças estruturais nunca vem sozinhas. Minha alma já não me veste como antes e  isso é muito interessante, considerando a trajetória de criatividade que se seguirá até a reinvenção de mim mesma. OK...você fica momentaneamente inviável para algumas pessoas e coisas  , mas também vocês queriam o que ?  O objetivo de  caçar a alma quando ela se perde é nobre e é assim que a coisa funciona se não
tivermos pânico de mudanças e formos dotados do necessário apetite existencial . Ah... a sensibilidade também nao pode ser igual ou menor que a de uma ameba, para que o reencontro futuro seja bacana, rsrsrsrsrsrsrsrsr.  

Meu tempo de Boas Festas sofreu um abalo sísmico com a perda de 3 grandes amigos que Papai do Céu levou.  Um deles me acolhia no Natal, o outro no Ano Novo.  O terceiro era uma alma peregrina que me servia de exemplo.  Eles eram tao extraordinários, que partiram levando  lágrimas e  deixando como legado , após o luto , a renovação da minha fé em mim mesma e uma triplicada alegria de viver . Eram pessoas que traziam tanto bom humor para a minha vida que não posso decepcioná-las. Nao quero que pensem que nao aprendi com elas as extraordinárias lições que me transmitiram.

O dever de casa está muito bom e eu estou tentando encontrar o lado interessante da coisa que leva ao crescimento  . Fernando Pessoa talvez expressasse os sentimentos que hoje me acontecem de uma forma mais simples.   Talvez dissesse apenas :  merda, sou lúcido! Eu estou me esforçando para usar linguagem menos chula, só porque estamos em tempos de Boas Festas, Ano Novo, essas coisas.


Os ganhos de 2009 e 2010 foram extraordinários, não só do ponto de vista da qualidade das lições quanto da qualidade dos novos amigos que vieram se juntar aos já existentes. Eles superaram em muito as perdas. Acontece que o gongo dos que Deus decidiu levar bateu muito forte em 2010, tao forte que de vez em quando me surpreendo em momentos de fé negociada. Aprendi isso com minha amiga Luiza.

Enfim... navego no meu barquinho e o mar está assanhado, mas azul.  É a vida sacudindo e tecendo sua teia para abalar  o que precisa sair da zona de conforto.  Como não costumo  ter muito medo dessas marés  (claro que tenho algum, sou corajosa mas nao sou maluca) , convoquei a transformação para a luta, montei um ringue inflável em pleno mar revolto  e cá estamos nós,  frente a frente, realizando mais um bom combate.  Tenho  um forte pressentimento de que sairei vitoriosa.  Na verdade, nem sei se esses combates terminam, me parece mais que a própria vida é o ringue e vivo hoje apenas um round mais disputado.    Deposito certa confiança no meu taco e também na sabedoria do Grande Espírito Transformador, ainda que estejamos em momento de negociação. Além disso,  " a gente tem que morrer tantas vezes nessa vida que já estou ficando craque  em  ressurreição" (aspas dessa vez para Elisa Lucinda) .

Que todos vocês sejam muito felizes em 2011  e mais blá, blá e blá mas que,  sobretudo,  permaneçam vivos!  Isso não é um pedido , é uma ordem.  Este item é de alta prioridade na nossa pauta de negociações. Quem estiver bem confortável em sua casa interna, que permaneça morando nela.  Quem não estiver,  que reencontre sua casa interna fazendo uma boa faxina, uma  boa reforma ou, simplesmente , mudando de endereço .  É o que desejo a todos em 2011.

Ultimo recado para os  que acreditam em mensagens esotéricas.  Dizem os sábios, os astros , as cartas e muitos outros saberes dominados pelas bruxas, que as mudanças nesse momento exigem espírito limpo e coração aberto,  mas muuuuuito atento, nada de sair cantando "mamãe eu quero"achando que a batalha está ganha. O  mar não está para peixe . Chegaram a dizer que seria melhor nao passar o reveillon de branco para não absorver o que está no ar.  Sendo assim, é hora  de ter calma e  aprofundar a compreensão das coisas que acontecem com você e ao seu redor, antes da tomada de importantes decisões.  Aquilo ou aquele que parece melhor,  pode nao ser. Já  aquilo ou aquele que parece não ser o melhor, pode lhe reservar ótimas surpresas para 2011. Ou não, rsrsrsrsrsr.
A  lição desse fim de ano parece ser: aprofunde a  compreensão com relação a todas os estímulos, pessoas e questões que chegarem até você tentando se manter num estado ao mesmo tempo: inquieto e relaxado, sério , alegre e leve . Difícil?  Eu também acho, mas vamos em frente.  Um velho amigo que também passou dessa para uma melhor, diria que a situação é grave, mas não é necessariamente séria.
A nossa paz será um pouco roubada, mas será passageiro.  Nas crises mais agudas é aconselhável meditar e deixar que as forças do bem soprem nossa vela e nos conduzam para a calmaria.  No final valerá a pena e, se nao valer, é porque ainda não é o final  (Eita! Essa última frase é batidona e foi criada por alguém que nao me lembro e não to nem aí , rsrsrsrsrsrsrsrs) .

Feliz 2011!
Beijo cheio de carinho, luz e esperança,
Vera Lúcia


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PS.:  Se ainda tiverem gás, releiam a  mensagem de Ano Novo que encaminhei em 2008, antes da temporada no Canadá.  Comunico que já  marquei um novo encontro comigo bem lá naquele lugarzinho mencionado na mensagem, logo após esse interlúdio.  Vocês estão previamente convidados para a festa. Quem quiser aparecer antes para trocar um abraço carinhoso, será muito bem vindo.  Atençao.  Reflexão e meditação não contaminam e não são sinônimos de depressão.  Eu vou muito bem obrigada.
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