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quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Felino alarme


Felino alarme
              Vera Mello
o gato emite sons pouco familiares,
pula e se contorce assustado
desarrumando o ar e o  silêncio

acho que tenta sorver em vão
a angústia semovente do tempo  
que hoje desanda  meu  ritmo cardíaco
e insiste em assombrar a solidão da casa

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Wislawa me pegou pelo verso

Queridos amigos,

Para os que já a conhecem antecipo minhas desculpas, para os que não a conhecem gostaria de pedir licença para apresentar aqui uma poeta muito especial.

Semana passada, ávida por um novo livro de poemas para degustar, acabei comprando o livro recém traduzido de Wislawa Szymborska,   poeta polonesa que ganhou o premio Nobel em 2009.  A Polônia é um grande reduto de poetas e eu, tolinha, só fiquei sabendo disso na semana passada.  Wislawa vem de uma geração entre guerras , viveu a segunda guerra mundial e 40 anos de totalitarismo na Polônia. É sempre um desconforto pra mim ler poemas traduzidos.  Que me perdoem os tradutores, mas sempre desconfio das traduções, especialmente de poesias.  
Escolhi o poema abaixo para estudar e apresentar na próxima reunião do encontro "Serendipite poético" que vem acontecendo aqui em casa.  Ele me comoveu muito por várias razões e senti vontade de compartilhar com vocês.

Deixemos que ela nos pegue pelo verso e nos conduza poeticamente pelo horror da guerra.

Beijo 

PS.:  Consta no livro  que o nome da poeta se pronuncia mais ou menos assim :  Vissuáva Chembórska.



VIETNÃ

Mulher, como você se chama ?  -  Não sei
Quando você nasceu, de onde você vem? - Não sei.
Para que cavou uma toca na terra ? - Não sei.
Desde quando está aqui escondida? - Não sei.
Por que mordeu o meu dedo anular ? - Não sei.
Não sabe que não vamos te fazer nenhum mal?  -  Não sei.
De que lado você está ? - Não sei.
É a guerra, você tem que escolher .  -  Não sei.
Tua aldeia ainda existe ? - Não sei.
Esses são teus filhos? - São

terça-feira, 18 de outubro de 2011

A marcha do mundo

Como o cachorrinho de um certo anúncio de TV , mas por motivos bem diferentes dos dele,  eu também andava, ultimamente ,  sem assunto.  Recentemente, no entanto, isso mudou . Quero deixar registrada aqui  a minha solidariedade com as mulheres e os homens comuns  que ,  sob o manto protetor de suas utopias, estão  se unindo  por todo o planeta  em nome do amor ao próximo, à natureza, à vida e contra um sistema capitalista corrupto, desumano e predatório.  Muitos de nós tínhamos consciência de que isso iria acontecer.  Era só uma questão de tempo.  Eu torcia todos os dias para estar presente nesse momento histórico, mas confesso que não imaginava viver o suficiente para testemunhar e participar dessa marcha,  de dimensão planetária, que sacode o capitalismo monopolista financeiro.  Meu coração está atentíssimo e cheio de vigor.

Que se cuide o cachorrinho tagarela do anúncio que viaja no banco de trás do novo carro de seu dono! Ele afirma que não tinha falado até aquela data porque ,  antes da compra do lindo carro novo ,  ele estava sem assunto.   Pois creia cachorrinho, seus vira-latas colegas de espécie, em suas latas-velhas, vinham tagarelando bastante bem antes de você, sem que fossem ouvidos.  Eles estão só com meia dúzia de assuntos em pauta. O problema,  meu nobre cachorrinho, é que essa pauta é a mesma para todo o planeta.  Fique atento, os vira-latas são muitos,  estão unidos e quase prontos para mudar o rumo de sua estrada logo ali adiante.  Estamos marchando, cada um a seu modo, mas juntos!

Cachorrinho!   Hei, cachorrinho!

Pronto. Foi embora e não ouviu .  Depois vai dizer que eu não avisei...

Vera Mello


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                             Marcha para a Bélgica  (em Carta Maior)

...   Os caminhantes chegaram a Bruxelas com um tesouro nas mãos: O Livro dos Povos. Na marcha em direção a Bélgica, os indignados realizaram nas localidades visitadas assembleias populares nas quais recolheram as queixas, ideias e reflexões dos habitantes.

Miguel Ángel, um dos protagonistas da Marcha Mediterrânea, ressalta que “ninguém ficará surpreso com a universalidade dos problemas recolhidos no Livro dos Povos.   Desemprego, corrupção, desperdício do dinheiro público, aumento dos impostos, diminuição dos investimentos em saúde e educação, problemas ambientais. Esses são os problemas do Universo”. O livro dos povos será apresentado às instituições europeias com a mesma filosofia que desprende de um grafite pintado em um muro de Bruxelas: “nossos sonhos não cabem em vossas urnas”. Como diz um cartaz da organização ATTAC: “não somos mercadorias nas mãos de políticos e banqueiros”.

Texto na íntegra no link
http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=18702

sábado, 10 de setembro de 2011

É Outono no hemisfério norte
















É outono em Montreal. A natureza pinta  a paisagem  com todas as quentes e exuberantes cores de sua paleta ,  como que anunciando que vai nos privar delas por um longo período de  tempo .  Depois da plástica performance,  começa a se despir folha por folha, até dormir completamente nua na neve branca,  fria e espessa da próxima estação.  Imagens como essas ficarão guardadas para sempre  atrás das cortinas de meus olhos turvos.  Eu as toquei. Eu as beijei.  Eu as vi , me comovi e chorei com elas.  Ainda sinto o friozinho gostoso no corpo dos bancos dos parques onde me sentava sob o sol cálido, para apreciar o espetáculo das cores e escrever .  Sinto saudades hoje de lá e dos amigos compartilhando comigo os seus ciclos em comunhão com a natureza.  É como se pudéssemos conjugar juntos os verbos estacionais :  eu primavero, tu primaveras, ele primavera... eu outoneio, tu outoneias , ele outoneia...  eu hiberno, tu hibernas  , ele hiberna, nós hibernamos... eu veraneio , ele veraneia, nós veraneamos. É muito revigorante esse ciclo das estações e eu sinto hoje uma saudade nostálgica desse coro, dessa orquestral conjugação entre os amigos e eu, sob a batuta da mãe natureza.
Para o outono publiquei certa vez um poema aqui
http://www.veramello.com/2009/11/janela-de-outono.html
Beijo .



Teco

Tico



Casa do Tico e do Teco















Tapete de um parque vizinho .





Rue des brises

Lachine
Lachine





Banquinho preferido das tardes de outono,
à beira do Rio Saint Laurent. 





quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Metade de mim também é de Jorge

Meu amigo Eduardo Goldenberg escreveu hoje um dos textos mais comoventes de seu extenso e belo repertório. Nele Edu cita a canção Medalha de São Jorge de Moacyr Luz e Aldir Blanc.   Ando me preenchendo de silêncios, as comportas das palavras estão fechadas .  Sinto muito , falo e canto pouco.  A via de escoamento tem sido as imagens, é por intermédio delas que tenho preservado a paz do meu reduto, usando a outra metade  que não é de Jorge.  Em tempo de seca de palavras, costumo me valer ainda mais da poesia de Aldir e dos textos do Edu , não só para me apaziguar, mas também para buscar pistas de onde minha lança se escondeu no meu quintal.  Eles sempre arranjam um jeitinho de colorir as palavras-chaves de meus links para que eu  aviste onde se encontra a guarda da espada.  Isso permite que eu a traga de volta  e  também que a  empunhe com toda a segurança .   É preciso cuidado para não decepar a própria mão nos embates cotidianos e eles são muito criteriosos nisso. Nesse lugar escorregadio, perigoso, ao mesmo tempo belo e rico de sentido , é que nossas almas se beijam.  Metade de mim também é de Jorge, de Edu e de Aldir . Abaixo a letra da canção . Marquei em itálico o texto citado por Edu , o mesmo onde Aldir atinge meu coração com a lança do Santo Guerreiro.  Confiram a beleza dos sentimentos desses nossos homens  nos versos da canção e no texto do Edu no endereço abaixo. 

Beijo.

http://butecodoedu.wordpress.com/2011/09/07/pra-jorge-em-voz-alta/

Medalha de São Jorge  

             Moacyr Luz e Aldir Blanc

Fica ao meu lado, São Jorge Guerreiro
Com tuas armas, teu perfil obstinado
Me guarda em ti, meu Santo Padroeiro
Me leva ao céu em tua montaria
Numa visita a lua cheia
Que é a medalha da Virgem Maria
Do outro lado, São Jorge Guerreiro
Põe tuas armas na medalha enluarada
Te guardo em mim, meu Santo Padroeiro
A quem recorro em horas de agonia
Tenho a medalha da lua cheia
Você casado com a Virgem Maria
O mar e a noite lembram a Bahia
Orgulho e força, marcas do meu guia
Conto contigo contra os perigos
Contra o quebranto de uma paixão
Deus me perdoe essa intimidade:
Jorge me guarde no coração
Que a malvadeza desse mundo é grande em extensão
E muita vez tem ar de anjo
E garras de dragão

sábado, 3 de setembro de 2011

Inverno no Canadá

Recebi ontem um telefonema de minha querida amiga A. A.  de Montreal.   Conversamos longamente sobre nossas coisinhas tolas. Falamos dos amigos comuns,  da nova casa , das saudades que sentimos  uma da outra e , como não poderia deixar de ser, daquele assunto tão importante e que nunca sai de pauta por lá:  as previsões do tempo para o próximo inverno.  Quando falávamos nisso, me lembrei que prometi em algum momento por aqui, colocar fotos das 4 estações do segundo país que aprendi a amar. Alguém disse certa vez que não viajamos por países ou cidades, viajamos por pessoas.  É claro que me refiro aqui aos queridos amigos que tenho por lá e que sempre despontam na mente quando ouço o nome Canadá.  Acho que a promessa foi feita na postagem realizada quando estava de volta para o Brasil da última vez .  Como não pedi autorização para tornar suas imagens públicas, deixo aqui imagens sem pessoas, mas eles estão por dentro do espírito dessas românticas casinhas.
Não tenho postado muito ultimamente.  Ando sem ânimo para escrever, mas cheia de ânimo pela vida.  Apenas as palavras me parecem cada dia mais insuficientes e inoperantes para expressar as emoções que sinto.  Nem na poesia elas me revelam mais, seu poder anda fraco frente às experiências que a vida tem me proporcionado.   Meu gato , Mestre do Silêncio, tem me dado importantes lições nessa matéria. Talvez algum dia escreva sobre isso, quem sabe?  Ainda bem que existe a fotografia.
Aí vai parte de minha dívida. Começarei pelo inverno. Até.



Plateau Mont Royal - Montreal

Montreal

Montreal


Montreal

Montreal



Montreal

Montreal

Montreal

Quebec city

Québec city

Escultura no gelo em Québec city

Concurso de esculturas na neve durante o Carnaval em Québec city

Concurso de esculturas na neve durante o carnaval em Québec city

Concurso de esculturas na neve em Québec city

Concurso de esculturas na neve em Québec city

Castelo de gelo erguido para o Carnaval em Québec city

Québec city

Enxame de vagalumes natalinos em Québec city

Québec city

Québec city

Québec city

Québec city


Plateau Mont Royal - Montreal

Casa de amigos em Montreal

Montreal

Montreal

Primeiro boneco de neve que avistei naquele ano  - Montreal

Montreal

Montreal

Montreal

Old Point Claire - Montreal

Old Point Claire - Montreal

Old Point Claire - Montreal