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terça-feira, 23 de dezembro de 2008

A Empresa no divã


O QUE É?

A Empresa no Divã é um “training show” no formato de conversa poético-musical que expõe, com leveza ,  as questões humanas presentes no ambiente empresarial , por meio de uma narrativa  bem humorada da semana de segunda a domingo de alguns empregados de uma empresa “fictícia”.

O espetáculo revela o lado "sombra" do empregado - aquele que todos sabem que existe, mas ninguém fala dele. Primeiro por acreditar que se trata de um estado de ânimo individual e isolado , segundo por obedecer a uma espécie de premissa implícita na cultura empresarial de que "um bom profissional é aquele que deixa a emoção do lado de fora ao cruzar a porta de entrada da empresa e só a pega de novo na hora da saída, ao voltar para casa".

A pergunta que fica o tempo todo no ar é : quem é aquele ser que entra na empresa, um clone ?
A serviço de que? A serviço de quem?

O espetáculo enfileira dias, personagens, músicas e poesias que ilustram os estados de ânimo desse ser cotidiano pela metade, sem perder de vista a generosidade com a condição humana e o bom humor.

Os funcionários se comovem, se divertem e se identificam com os personagens, reavaliando suas atitudes e refletindo sobre situações vividas no dia-a-dia.

DEPOIMENTOS

“O espetáculo é marcado desde seu início com personagens que conhecemos e convivemos durante nossa carreira profissional e em nosso dia-a-dia. A correlação das musicas com os dias da semana foram abordadas de forma inteligente e leva aquele que está assistindo a viajar na sua história profissional, revendo "personagens do nosso dia-a-dia" ou seja nos leva de uma maneira bem humorada a uma reflexão profunda do que vivemos. Combinação perfeita, leve , onde cada momento vivido foi uma oportunidade de fazer uma autoavaliação e reflexão da sua postura e onde você pode melhorar. Não só recomendaria, como também deveria ser obrigatório em todas as organizações atividades desse tipo.”

George Paiva
Diretor de Recursos Humanos
Equant Brasil // Equant Services


“Reconheci a mim e alguns colegas na segunda-feira acompanhada da música de Chico Buarque. Não é com freqüência que isso acontece, mas já acordei na segunda pensando, preciso mesmo ir trabalhar hoje? Por que não posso ligar e simplesmente dizer que não quero voltar à rotina hoje? Acho que todos no mundo corporativo já passaram algum dia por uma situação como essa. A apresentação da Vera me fez achar graça desses momentos e refletir sobre como fazer para que as segundas sejam sempre agradáveis . O formato lúdico de trabalhar os sentimentos é normalmente mais leve e interessante do que discutir diretamente sobre o tema. Além do carisma da artista, achei a combinação fabulosa. Me fez viajar nas poesias, relembrar de letras de sambas e outros estilos de música que nos dizem muito e me levou a refletir sobre minha atitude em relação a algumas situações profissionais. Recomendaria, claro. É agradável, descontraído e nos faz refletir sobre a forma de encarar a rotina de trabalho e fez ter certeza de que, para estar bem no trabalho, é preciso respeitar seus próprios sentimentos e momentos e, acima de tudo, gostar muito do que faz”.

Ester Farinha
Ger. de Remuneração e Serviços
Intelig Telecomunicações Ltda

Durante todo o tempo do espetáculo nos identificamos com os vários personagens do meio empresarial. Todos estavam lá: o revolucionário, o obediente, o guardião da moral e dos bons costumes, o arrogante ... O formato do trabalho não podia ser melhor, a união da sensibilidade artística da Vera com a sua vivência no meio empresarial, especificamente na área de recursos humanos, consegue promover um show único de realismo e beleza que encanta a todos. Recomendo fortemente o espetáculo, afinal abordar as mazelas do meio empresarial de uma forma lúdica e sensível só nos ajuda na reflexão sobre o assunto e nos permite buscar saídas para abrirmos nossos horizontes e encararmos nossas vidas dentro e fora do escritório de outra maneira.

Silvana Rodrigues
Coordenadora de Talentos Humanos.
Claro

domingo, 21 de dezembro de 2008

O Mestre-sala dos Mares

Ao lado mais um dos objetos concebidos para o espetáculo dos 60 anos do Ourives do Palavreado, Aldir Blanc, inspirado na música " O Mestre-Sala dos mares" que ele fez em parceria com João Bosco.

Essa belíssima canção foi composta pela dupla em homenagem ao marinheiro João Cândido, que entrou para a história como O ALMIRANTE NEGRO, lider da Revolta da Chibata, ocorrida em 1910 .
Consta que João Cândido sobreviveu aos maus tratos na prisão , mas enlouqueceu com a memória do massacre imposto aos seus companheiros e foi internado num hospital para doentes mentais. Tuberculoso e na miséria, conseguiu se restabelecer, mas foi perseguido constantemente. Morreu no Entreposto de Peixes da cidade do Rio de Janeiro, sem patente, sem aposentadoria e até sem nome.

Sempre que ouço falar em Hospital para Doentes Mentais, me vem à cabeça a imagem da imobilização dos pacientes, especialmente a imagem da "camisa de força", instrumento de imobilização felizmente proibido atualmente , que quase me fez desistir da carreira de Psicóloga nas aulas práticas de Psicopatologia que tínhamos no Pinel e no Hospital do Engenho de Dentro. Não há nada mais chocante do que ver um ser humano que não enlouquece por vontade própria, imobilizado por aquele instrumento de tortura. Na época do espetáculo , quando soube que Aldir também havia trabalhado no Hospital do Engenho de Dentro , decidi fazer uma espécie de "laboratório" e voltei lá. Chegando ao Hospital fui informada que na semana seguinte seria inaugurado um Museu. Perguntei se tinham uma camisa de força exposta. Tinham. Pedi para rever , proibido! Só na inauguração. Vencidos os caminhos burocráticos de praxe, me deixaram ver a única camisa remanescente. Lá estava ela no seu melhor lugar, o de peça de museu! Fiz a viagem de volta para casa experimentando o mesmo sentimento de horror que experimentei aos 18 anos de idade , quando vi pela primeira vez na vida , um ser humano deitado no chão imundo do hospital, imobilizado por uma coisa daquelas. Passados alguns dias, a imagem que concebi para esta música foi a de uma camisa de força, com gola de marinheiro , ostentando no "nó cego" dos braços as insígnias de Almirante. Colocado o último detalhe da camisa, alguma coisa ainda me deixava insatisfeita. Dimas Malachini , querido companheiro da Oficina de Objeto e Escultura de Lia do Rio , se solidarizou ao meu mal estar e ficou junto comigo, de longe , observando o objeto. Tentávamos adivinhar o que estaria faltando para que ele "se completasse". Subitamente ele caminhou em direção ao objeto, pediu licença, arrancou a camisa da parede e saiu arrastando a camisa pelo chão imundo da oficina . Depois dos maus tratos e do nosso abraço comovido , estava pronta a homenagem a João Cândido e à dupla de compositores .

Importante ressaltar que só recentemente, no dia 20 de novembro de 2008 , dia da Consciência Negra, o Presidente Lula e o Ministro da Igualdade Racial, Edson Santos, inauguraram a estátua em homenagem ao Almirante Negro na Praça XV , em solenidade sem representantes da Marinha e do Ministério da Defesa. Como noticiado pela imprensa , o Presidente comparou o homenageado a outros personagens da história brasileira que enfrentaram militares- o beato Antônio Conselheiro, líder de Canudos, no início da República; Gregório Bezerra, comunista torturado em 1964; e o guerrilheiro Carlos Marighela, morto em 1969 - e disse que os brasileiros "precisam aprender a transformar seus mortos em heróis". Durante a cerimônia , João Cândido foi chamado como ficou conhecido , de "Almirante" , embora a Marinha o considere apenas líder de um motim contra a hierarquia. Devido a essa resistência, a estátua de João Cândido levou alguns anos no Museu da República antes de ser deslocada para a Praça XV.

João Cândido foi anistiado em 24 de julho de 2008 graças a um projeto da senadora Marina Silva do PT do Acre, que foi aprovado pelo Congresso e sancionado pelo Presidente Lula.

A letra original da canção foi censurada na época e algumas alterações foram feitas para que pudesse ser gravada.

Abaixo o Kit do Almirante Negro com a caixa e o bloco de notas, realizado para presentear o público, com foto do objeto tirada por Juliana Ennes. A seguir a letra original censurada e a letra no formato que é cantada atualmente e que consta no verso da caixinha do Kit.



O Mestre-Sala dos Mares ( Letra censurada )

João Bosco/Aldir Blanc

Há muito tempo,
Nas Águas da Guanabara,
O Dragão do Mar reapareceu,
Na figura de um bravo marinheiro
A quem a história não esqueceu
Conhecido como o Almirante Negro,
Tinha a dignidade de um mestre-sala
E ao acenar pelo mar, com seu bloco de fragatas
Foi saudado no porto
Pelas mocinhas francesas,
Jovens polacas e por batalhões de mulatas.

Rubras cascatas
Jorravam das costas dos negros
Pelas pontas das chibatas,
Inundando o coração
De toda a tripulação
Que, a exemplo do marinheiro,
Gritava: não.

Glória aos piratas,
Às mulatas,
Às sereias,
Glória à farofa
À cachaça,
Às baleias...

Glória a todas as lutas inglórias
Que através da nossa história
Não esquecemos jamais.

Salve o Almirante Negro,
Que tem por monumento
As pedras pisadas do cais


O Mestre-Sala dos Mares ( Letra gravada)
João Bosco e Aldir Blanc

Há muito tempo nas águas da Guanabara
O Dragão do Mar reapareceu
Na figura de um bravo feiticeiro
A quem a história não esqueceu
Conhecido como o Navegante negro
Tinha a dignidade de um mestre-sala
E ao acenar pelo mar, na alegria das regatas
Foi saudado no porto
Pelas mocinhas francesas
Jovens polacas e por batalhões de mulatas

Rubras cascatas
Jorravam das costas dos santos
Entre cantos e chibatas
Inundando o coração
Do pessoal do porão
Que, a exemplo do feiticeiro, gritava, então:

Glória aos piratas, às mulatas, às sereias,
Glória à farofa, à cachaça, às baleias,
Glória a todas as lutas inglórias
Que através da nossa história
Não esquecemos jamais.

Salve o Navegante Negro
Que tem por monumento
As pedras pisadas do cais

(Mas, salve...)

Salve o Navegante Negro
Que tem por monumento
As pedras pisadas do cais

O bêbado e a equilibrista



Prosseguindo com o tema "caixinhas" , aí vai a foto do objeto e do kit de caixinha e bloco de notas que fiz para " O Bêbado e a Equilibrista", maior sucesso da dupla João Bosco e Aldir Blanc que acabou conhecida como o Hino da Anistia. Herbert de Souza, o Betinho , querido irmão do Henfil mencionado na letra, costumava dizer que foi graças a ela que ele voltou do exílio.
O objeto foi idealizado para o espetáculo Aldir à Vera : um cabo de aço que atravessava o palco com um chapéu côco equilibrado sobre ele. Aldir disse certa vez que é esta a canção que melhor lhe define. Fiz então o conjunto de caixinha e bloco de notas e , ao invés de sortear para a platéia, dei a ele de presente no final da temporada. A execução do objeto aconteceu durante as aulas de Objeto e Escultura com Lia do Rio no Instituto Calouste Gulbenkian. A execução da caixinha e do bloco de notas, foi feita no ateliê de Vera Castro e Mariazinha Goldemberg , na "Flowers on time", linda e charmosa loja de objetos de decoração carregada de ótimo astral , no Shopping Center Itanhangá. Quem já passou por lá, nunca a esquece. Quem ainda não conhece, não sabe o que está perdendo.

O Bêbado e A Equilibrista
João Bosco e Aldir blanc

Caía a tarde feito um viaduto
E um bêbado trajando luto me lembrou Carlitos
A lua tal qual a dona do bordel
Pedia a cada estrela fria um brilho de aluguel
e nuvens lá no mata-borrão do céu
Chupavam manchas torturadas, que sufoco louco
O bêbado com chapéu coco fazia irreverências mil
Prá noite do Brasil, meu Brasil
Que sonha com a volta do irmão do Henfil
Com tanta gente que partiu num rabo de foguete
Chora a nossa pátria mãe gentil
Choram Marias e Clarisses no solo do Brasil
Mas sei que uma dor assim pungente não há de ser inutilmente
a esperança dança na corda bamba de sombrinha
E em cada passo dessa linha pode se machucar
Azar, a esperança equilibrista
sabe que o show de todo artista, tem que continuar
tem que continuar

sábado, 20 de dezembro de 2008

Confetinhos poéticos

Envio hoje para vocês, uma seleção de pequenas coisinhas escritas pela "Entidade minimalista" que , vez por outra, me habita.


1 A CARTEIRA E A POETA

ele é meu escargozinho
ele é meu terninho Armani
cortado por encomenda


2 DE PALCO ALTO

voz  
      estridente
roupa
      extravagante
maquiagem
      carregada
risada
      escandalosa
perfume
      onipresente
ELEVAdor
perFORMAdo



4 MEDO

A vizinha tranca a porta
quando toca o interfone.
Isso me paradoxa.

5 EXIBIÇÃO

Ali no Jardim de Alá
tainha
                              ar
              pro
Pula
pra exuberar resistência 

6 AMOR DE ENTRESSAFRA

rótulo despojado
informações transparentes...
       persistente e intenso vinho
       inda um pouco adstringente

tato encorpado
toques de pimenta...
       excitação nos botões gustativos
       em diferentes áreas da língua

na degustação íntima
jovem ainda para a prova
        mais uns anos de adega
        aromas complexos
        no château de outra enófila


7 APARELHO ORTODÔNTICO

Chegou com barulho e sorrisos
alegria e gurizada
meu dia virou um toró
de chapinhas premiadas

8 SEM PIRULITO

As grades nas praças e casas
me descriançam

9 AVANÇO DE SINAL

Camisinha já foi método.
Hoje em dia
é pisca alerta.

10 PELO AVESSO

bainha de morro 
anda mal alinhavada.
-  ponto em desgoverno

A quem interessar possa, comunico que a eternidade existe e é minha irmã.

É Natal no mundo e o campo fértil de meu coração oferece excelente safra de pés de vagalumes madurinhos. Estou plena de minhas próprias luzes nesse final de 2008 e a rua onde moro é um imenso presépio que posso enxergar da varanda. Que bela poderia ser ainda mais, minha cidade, se todas as ruas fossem como essa!

Tive um ano lindo e fértil em delicadezas e sou grata às forças do bem por isso. Tenho amigos passando por momentos difíceis e, não fosse por eles, estaria inteiramente feliz. As conquistas foram imensas. Olho para trás e constato que todos os sonhos da infância, da adolescência e da maturidade foram realizados. Ter atingido as metas do meu cronosonho me parecia, até algum tempo atrás, uma idéia ao mesmo tempo desejada e assustadora. Qual seria o cronograma de Deus para os meus próximos anos? Hoje , vencido o medo do desconhecido, caminho pelo mundo servindo-o, com uma delicada e maravilhosa sensação de peregrina descalça. Como é bom não ter dívidas, especialmente de sonhos! Plena do que fui e do que sou, vagueio pela vida sem receio de ficar ou de partir. Tudo em torno tornou-se eterno na sua contingencialidade. A eternidade deixou de ser um conceito e é hoje esta sensação corpórea e tangível que sinto em plenitude e que me permite dar testemunho de sua existência. Acreditem, ela dorme comigo no meu quarto e sobre ela não paira em mim nenhuma dúvida. Que continuem os filósofos discutindo-a e duvidando-a, que continuem os poetas, em seu metafórico espaço, tentando traduzi-la, que continuem as crianças brincando e ignorando-a. Eu apenas a sinto, degusto e silencio, enquanto ela ressona ao meu lado de pijama , como eu e minha irmã nas minhas mais doces e caras lembranças da infância.

Que Papai Noel traga para cada um de vocês a realização de seus sonhos e que o Ano Novo lhes reserve esta maravilhosa sensação corpórea que hoje me beija, é o que desejo a todos neste final de 2008.

Com carinho,
Vera Lúcia de Oliveira Mello

sábado, 13 de dezembro de 2008

De cantor, poeta e louco, todo mundo tem um pouco

O QUE É

Oficina poético-musical, com participação de empregados.

O mergulho na obra de grandes compositores e poetas de língua portuguesa possibilita não só , o alargamento do universo cultural dos participantes, como também um aguçamento de sua percepção para a poesia do cotidiano .  A criação de  um novo plano de relacionamento possibilita, também, a flexibilização das relações de trabalho,  geralmente marcadas pela formalidade .
Ao final da Oficina os empregados fazem recital para os demais colegas da empresa, do repertório trabalhado durante a semana.

DURAÇÃO

Intensivo - uma semana 3 horas por dia

PREÇO

Sob consulta

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Crônica de Eldorado dos Carajás

Crônica de Eldorado dos Carajás
                       Vera Mello

os homens dos camburões
matam os sem terra
aos magotes
matam crianças
gestantes
mulheres sem um vintém
          matam miseráveis do bem!
conhecem o seu lugar
de cor, de frente, no avesso
e, no entanto, dos mandantes
nunca sabem o endereço.
Os chefões estão por ai
andam entre nós sorridentes
nos palácios, nos comícios
tomando chá nos salões.
Os gabinetes
conhecem as estatísticas
menos o nome dos mortos
dos pais, dos filhos, parentes

vivem de cara lavada
na cara de todos nós
Já já vão matar os pedintes
os sem escola, os sem teto.

Os sem pão já foram mortos                                                                                                                           de fome naturalmente! 

Alguns terão morte morrida,
outros a morte matada
e os mandantes, como sempre
esses não sabem de nada
não sabem quem eles são
se deixaram a sua amada
se sonhavam com o feijão
para fazer feijoada.
Com madeira sucateada
do cabo da foice e da enxada
suas caras de pau são lavadas                                                                                                            com o sangue de agricultores 
que lutaram pelo chão.
Estranho país o meu,
que trata assim o seu filho!
Estranha essa minha pátria
mãe degenerada, doente.
Durante o dia ela educa
para ser um delinquente,
um marginal perigoso,
sem culpa, cheio de tara
e logo à noite  nos deixa
sozinhos no travesseiro
sem acalanto , cantiga
sem beijo de boa noite 

          com muita vergonha na cara.  


Improvisando com Chet Baker

Chet , Chet , Chet , Chet
onomatopéias de vassouras
invadem o silêncio da noite
a voz desliza por puro prazer
no tapete mágico
de veludo macio
convidando ao improviso

Ti be di do , ti be di do ,
Ti be di do , ti be di do ...

Ele e elas se divertem,
Ti be di do , Chet! Chet!
Ti be di do , Chet! Chet!

Intrusa silenciosa
ouvindo essa linha cruzada,
sou pega em suspiros
com a saia levantada
sobre os poéticos bueiros,
em frente a uma loja da Madison,
perdida em becos escuros

Ti be di do, Chet! Chet!
Ti be di do, Chet! Chet!

A conversa insufla um pouco de vida
e de espírito,
ao meu mundo
Na mesa de um bar do Village
servida por um garçom cubano,
sorvo um vinho do Napa Valley
enquanto um casal de amantes
adentra, apressadamente,
um velho yellow cab

Ti be di do, Chet! Chet!
Ti be di do , Chet! Chet!

No balanço do bebop,
Dancing on the ceiling
de velhos solares da alma
me vejo dizendo adeus
a antigas disritmias,
às recentes desafinações dos meus dias

E no melhor da viagem,
como um maestro
selvagem,
te vejo invadindo a pauta
marcando uma nota
evitada
no meu sonho de harmonia

Piano introduz novo tema
e eu já meio aturdida
semiconfusa
entre fusas
sou pega por Chet ao som de...
How long has this been going on?!

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Cão de casa

Cão de casa

Nem ligo quando ele explode,
geralmente é sem razão,
fala besteira, bobagem,
esbraveja,
fica cego como um cão!

Raivoso não mede palavras,
parece sem coração,
não adianta gemer,
pedir absolvição.

Teimoso,
mesmo se errado,
nessa hora não tem jeito
melhor mesmo é recuar
e deixar ele latir
pra aliviar a tensão.

Mais tarde com muita calma,
se comove,
se enternece,
me despe,
me lambe toda.
Como é gostoso o meu cão!

A Casa Verde

A Casa Verde e' uma casa-estufa na serra de Petrópolis, cercada de flores e vegetacao generosa. Minha amiga Zeze' mora la'. Lá me refugio e me recupero dos males da vida na companhia dela e de amigos queridos. Zezé e a Casa Verde são como faces de uma mesma moeda. Um dia falarei melhor sobre Zezé. Por hoje fica a minha gratidao e o poema.

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Entre gatos e pincéis
começo a urdir a tela da Casa Verde.
Como fogos de artifício
explodem as memórias nos aromas dos cafés,
dos pães, dos doces, das hortaliças.
No umbral de um novo tempo
harmonioso varal de sons e silêncios
exibe a realidade dos meus vincos
e a sabedoria dos meus vínculos
Ao ritmo de Chet Baker
nada falta, nada sobra
na música, no vento,
na chuva, no vinho,
na arte, no alento.

Com toques leves e precisos
integro sutilezas, imagens, retalhos,
vácuos profícuos, rasgadas esperanças.
Tudo parece ao mesmo tempo
calmo e pulsante,
pungente e diáfano,
conhecido e desconcertante.

Acariciada por pássaros, flores e amigos
despida de imagens e ruídos da modernidade
a alma na Casa Verde andarilha
em estado pagão de consciência
num abrigo cósmico tangível
que liga a rua do Big Bang
à nossa saudável e possível inocência.

Utopia animal

Cansei do enigma do meu e do teu sintoma,
cansei da ignorância da palavra que me determina,
cansei da busca de compromisso entre eu e meu desejo
cansei da busca de verdades indecifráveis e improferíveis
não quero saber de códigos, nem de metáforas
cansei de estar grávida de significantes
Quero a verdade direta do olhar dos moços de frete de Pessoa
quero a verdade da dor do meu pé torcido
quero a verdade do silêncio insolente
quero a verdade do carinho casual e delinquente
verdades quase referentes
Desejo hoje o sensório e o tangível
estes são os ‘issos’ com os quais nessa manhã quero conviver
sem a tentação de decifrá-los
Hoje quero me sentir livre da doença,
da causa e de seu sintoma
gargalhar , junto com Deus, na manjedoura do tempo
e enviar para o diabo todo o enigma!

Calota polar

Sinto uma água sólida no peito
bem no lugar onde um oceano havia
acho que o amor dele se foi e deixou ártico
um coração enseada que antes lhe cabia.

Me pega pela mão

Me pega pela mão.
me leva para ver os lírios
de um jeito que eu nunca vi.
Deixe que eu sinta no ar
o cheiro dos eucaliptos
me ensina a te ver de novo
com os olhos da minha criança
depois me roda, me dança

Me pega pela mão
deixa que eu sinta na minha
todas as linhas da tua
em cada curva da rua
Me mostre de novo os rios,
as florestas
as flores do campo crescendo
as dormideiras, bromélias
as borboletas em festa,
me dê de comer jamelão
me presenteie um bouquet
feito de hortências de estrada
ou de bocas-de-leão

Me pega pela mão
me mostre o seu mundo de ontem,
me fale dos seus amigos,
das gentes da vizinhança,
quando você era criança
E no final desse dia
depois que o sol for embora
me desvista pra dormir
onde eu possa ouvir a noite
e regue de sêmen o jardim
que mora no meu avesso
pra que brote essa mulher
que eu quis ser
desde o começo.

Brincando com fogo

Vamos brincar de amar
peça a cama inconsequente
que eu peço o teu coração
mostre a tara desvairada
que eu te mostro a minha alma
Se é pra brincar, brinquemos
cada um com seus disfarces
cada um com suas armas

Amando nas estrelas

As manhãs renascerão
o padeiro fará pão
um de nós não estará lá
nem pro café,
nem pro bolo,
nem pro beijo,
nem pro colo,
nem para o olho no olho

Nossa ausência iluminada
por luzes de alma lavada dirá :
- Olá! Ao luar...
se for para mim querido
já aprendi a orar
se for pra você meu anjo
olhe para o céu distante
aquela estrela cadente
mergulhando em pleno ar
sou eu em acrobacias
cheinha de alegria
tentando entrar sem ser vista
pelo seu teto solar

É preciso mais que saudade
para se amar nas estrelas
é preciso calma, coragem
fazer da dor homenagem
e perder o medo de vê-las

Tecendo na masmorra

Não sou de correr da raia
nem quero morrer na praia
no alinhavo me esmero,
me embaralho, desespero,
mas nunca largo da agulha
que está sempre em uso
tecendo no bastidor.

Aqui nesse meu castelo,
tem sapo, tem príncipe, espelho
tem moura torta, alfinete
Coringa , Pingüim , Gepetto
heróis, anti-heróis e desvãos
Nos vãos dos seus corredores
choram Cinderelas, princesas
Brancas de neve, rainhas,
boas ou más, não importa
e choram também Luluzinhas,
com medo da bruxa má.
Deixei de fora o Pinóquio,
que nem entra em solilóquio,
quanto mais na hora H.

Com todos na mesma trama
bordo os enredos na lama
que vai do poço, pra cama
do calabouço, ao altar.

Homem grande pelado

Tinha um homem pelado pela casa
Não!
Tinha um homem muito pelado pela casa
Eu disse muito,
do verbo bastante,
do verbo todo,
digo homem do gênero grande,
do gênero adulto.
Foi um espermatozóide
entrado de óvulo
um bebe suado de mijo
uma criança brincada de gente.

Tem um homem muito pelado andando pela casa
um homem de grande glande,
olhar genuíno ,
um homem a quem amo
enquanto grande ,
um homem que amei
desde menino.
Oi, filho!

Rito de Passagem em rimas

Rima s.f.
Recurso usado por quem sofre, pra fingir que
é capaz de controlar a dor .

Obrigada pai, pelo amor à poesia , que me indicou o caminho de pôr o caos em palavras. Obrigada mãe, pelo amor ao ritmo, que me ensinou a ouvir o tempo do coração. Obrigada a ambos pelo amor à música nessa fusão... de pulsações nos compassos , de narrativas melódicas, de harmonia nos acordes da minha própria canção. Obrigada a você Arnaldo, incansável anjo da guarda, pelo apoio que me dá quando, de olho no espelho, coloco meu dedo em riste em direção ao nariz, sem deixar barato ao cheiro. É tanto caco, tanta vida, tanta emoção mãe... e eu tô aqui revivida,com energia ainda para colar os pedaços.
Tem sido difícil mãe, sacrificado meu pai! Sensibilidade à mostra, em carne viva, teimosa ... é difícil de levar largada nesse mundão! Tem de tudo por aqui. Tem amor, dor , confusão... e tem até muita gente curiosa de se ver. É preciso estar atenta, com a porta entreaberta, escancarada? Jamais! E a minha estava aberta, mãe...e eu deixei esparramar tudo aquilo que vi dentro, que nem sei como brotou. Parecia um grande amor, parecia só desejo, parecia déjà vu, parecia até às vezes que eu sempre estivera ali. Deu uma vontade danada de me virar pelo avesso e amar em profusão, pude não!
Tinha um “day after” estranho, que eu não podia entender, como se amar de novo pudesse comprometer. Tinha grito, baixaria, raiva logo no outro dia! E quanto mais eu queria, com mais força a raiva vinha, como se tara e paixão fossem coisas do demônio... e a mulher, o patrão!. Tinha defesa, desleixo... e um jeito muito esquesito de arrematar os desfechos.
Fiz muitos castelos não, mãe! Só queria ter a roupa retirada devagar , ou com tara de apaches numa noite de luar, ou só as pressas, quem sabe? Na ânsia de apaixonar. Só queria amor inteiro, que desse pra rir e chorar, desses que exigem coragem pra se poder enfrentar, mas que é preciso fluir, pra conferir no que dá. Deixar escorrer o mel, pra degustar o que resta... e se tiver que morrer, que se possa dar adeus mantendo o gosto da festa! E se a dor for fatal, como alinhavo final, quem sabe um cartão postal retribuído com flores? E as histórias se completam... e estão salvos os amores!

Obrigada Adélia , Drummond, Lucinda ! Que seus versos ganhem vida no coração dos aflitos, dos que expropriam a memória do ardente calor dos corpos, do sabor dos beijos, da sonoridade das palavras e vivem de lá pra cá, sem bússola, sem radar, sem clareza do que há dentro, sem querer elucidar e que inventando eufemismos para os fantasmas da alma, sem saber suavizar, confundem F com P na luta pelo poder, chamam ódio de amor, indelicadeza de sinceridade, ansiedade de tesão , egoísmo desmedido de saudável individualidade! E olha, também sou de aquário, foi muito trabalho árduo nos labirintos do peito, para enxergar tudo isso, desse outro jeito.
Mãe, Pai , obrigada mais uma vez, por terem me dado a arte como alternativa à loucura, por terem me dado o diálogo como alternativa ao silêncio, e o profundo respeito à condição humana, como alternativa ao desprezo.
Errei muito no caminho, mãe! Tentei aceitar o possível e vivê-lo de bom grado. Talvez tenha confundido, talvez tenha me enganado, talvez tenha me omitido. Acreditei no empate, entrei na paixão desabrida e quando dei conta do engano, soneguei minha ternura, escondi delicadeza , convertí minha doçura em raiva de mulher presa. Guardei tanto que de bom fora melhor ter trocado, que isso dói muito mãe, dói mais que ser rejeitado. Dói de não ter saído, dói de ter sido guardado, dói de não ter podido mostrar toda a minha face. E essa foi a minha parte! É difícil ser feliz nesse mundo carcomido, neoliberal, consumista. Hoje no pocker do sexo, o amor parece não ter nexo e nem cacife bastante para ter lugar à mesa. Passado, presente e futuro, estados do tempo e da alma, se comprimem numa noite e ficam ali conformados, cúmplices da inconsequência. Os seres humanos mãe, perderam individualidades; são números, estatísticas, desprovidos de vontade. E vamos todos morrendo, em rios de vinte centímetros de média profundidade! Afogados nos abismos das couraças corporais implorando uma massagem, das palavras interditas, das verdades ocultadas, dos sentimentos falidos e nus, caídos à beira da estrada.
É hora de trabalhar! Vou pegar esses caquinhos espalhados pelo chão,olhar cada qual direitinho, sem medo da revisão. Se não servir para essa, serve pra outra ocasião. Vou catar os espartilhos, que eu gosto de deixar, calcinhas e soutiens que eu mal cheguei a usar, dos muitos momentos de amor que eu esperava encontrar e fazer uma fogueira, cercada das flores vermelhas que eu sonhava ganhar. Enquanto estiver queimando, eu vou me sentar do lado e invocar o Arnaldo para vir me ajudar e vou chorar como louca, pensando naquela boca que eu ainda queria beijar. Vou pensar também ainda, naquela vontade que eu tive e não pude realizar, de pegá-lo pelos pés e lamber cada dedinho, sem pular nenhum dos dez. E repetir igualzinho com cada dedo da mão, com cada articulação,com cada marca da vida que eu visse pelo caminho e que, por intuição, imaginasse ser eco de uma dor do coração.
Terminada a excursão pelos abismos da alma, na minha imaginação, implorarei de joelhos , aquele último beijo que ele deixou de me dar e implorarei ainda pra que faça amor comigo, tendo meu corpo de abrigo pra gente se apaziguar.
Depois da força da imagem, feito o rito de passagem, procurarei relaxar. Vou andar por Ipanema ,sentir o cheiro do mar, soltar o meu diafragma pra que possa respirar e quando puder vou buscar experimentar outros rumos, visando me adaptar a esse bolsão de consumo das novas formas de amar.
Pra começar vou seguir o exemplo da Elisa . Vou fazer uma safena e “abrir as inscrições para os machos de plantão que vivem a me desejar. Vestirei vermelho escarlate e torcerei pra que matem o outro que ainda está lá”, não sem antes implorar a todos os padroeiros, que me livrem por inteiro dos amores dos amantes que brincam com o verbo amar. Se apavore não Arnaldo, tou falando tudo isso só para desabafar! Sei bem onde tenho os pés , ainda que esteja sem chão.
Hoje eu vou dormir com a Pepona, meu bonecão de algodão. Ela é macia, receptiva e, sobretudo, inofensiva! Não é regressão não mãe, é só um doce descanso antes da volta ao timão. Chega de amor oprimido, carinhos de ocasião, chega de brincadeira com meu saudável te-são!
Boa noite pai! Boa noite mãe! Boa noite meu filho! Mamãe andou à deriva, mas já avistou o cais. Conseguiu sobreviver, sem fazer você sofrer , sem perder a lucidez ou dizer : amor? Nunca mais!!! (março 1995)

Textos antigos

Queridos,

Por sugestão de alguns amigos, decidi divulgar a partir de hoje textos antigos, cujas emoções fizeram parte , um dia, da minha cena cotidiana. Hoje a maioria já não faz mais, no entanto, sou grata a cada uma delas pelo que deixaram na memória da pele e do coração, e pela oportunidade de crescimento que me proporcionaram. Se hoje estou serena diante de árvore, gente e bicho, é porque devo muito a cada uma delas .
Beijo carinhoso para todos.

sexta-feira, 11 de julho de 2008

Sob o clima da FLIP

Acabo de voltar da Festa Literária Internacional de Paraty . Em função das notícias que nos chegam diariamente por intermédio da imprensa, não ando muito animada em falar das parcerias público/privadas no Brasil. Seria, no entanto, um grave erro por omissão , não levar até vocês os meus comentários sobre a FLIP.

Há muito queria participar dessa festa. Todo ano, no entanto, um vento obliquo me arrastava para longe dela. Vocês sabem que em se tratando de Literatura, sou uma feroz devoradora de livros de poesias e uma pouco voraz consumidora de prosa. Tenho tomado várias iniciativas para melhorar a minha relação com o gênero e a ida à Flip seria fundamental. Uma outra iniciativa vem sendo ampliar a parceria com minha amiga Zezé . Faço escambo com ela de indicações de romances por indicações de poemas e indicações de vinhos por indicações de filmes, mas isso é uma outra história .

Em que pese a excitação e a grande expectativa que eu tinha em relação a festa deste ano , devo dizer que há muito não era surpreendida tão positivamente por um evento nesse país. Tudo bem, foi a minha estréia, o homenageado era Machado de Assis etc, mas mesmo assim, é preciso reconhecer que aquela festa é uma tentativa de "cultura para todos", ainda que dentro dos limites de um Brasil pródigo em diferenças sociais.
Senão vejamos:

Na tenda dos autores, ingressos a 25 reais com direito a fazer perguntas e a ter contato direto com os convidados. Na tenda do telão, ingressos a 8 reais, sem contato direto com os expositores. Em volta da tenda do telão, a ausência de tapumes, permitia que a legião dos "sem ingressos" pudesse assistir às palestras de pé ou sentados nas rampas e degraus. Mais adiante a Flipinha , com literatura a vontade e muitas brincadeiras para as crianças. Nos inúmeros folhetos distribuídos, eventos da " OFF Flip", da nova "Flip e etc' ' e muitos outros , deixavam tontos os participantes ávidos de cultura. Eram atividades para todos os gostos e bolsos pipocando pela cidade. Uma outra tenda repleta de livros a preços "normais" (no sentido de "sem descontos") estava lá com exemplares dos lançamentos e outros livros dos autores presentes à festa, classificados pelo número das palestras. Informação importante: os habitantes de Paraty têm acesso a TODOS os livros da FLIP gratuitamente, uma vez que ao final da feira um exemplar de cada publicação passa a constar das prateleiras da biblioteca pública do evento , que funciona o ano inteiro e já se integrou ao cotidiano dos leitores da cidade. Iniciativa soberba num país que precisa ler e mantém preços abusivos em suas publicações.

Nenhum caso de violência, nenhuma ocorrência policial relevante. Tivemos uma espécie de evento cultural dos sonhos , espargindo esperança na minha descrença . Antes que me falem ou perguntem sobre os bastidores, aviso que não sei de nada. Se podridão há , quero ficar sem saber delas por uns 15 dias, OK? Deixem que eu acredite só um pouco. Minha sofrida alma brasileira tem fome de esperança.

Era o Brasil exibindo simultaneamente alegria e competência . Era o Brasil se beijando na rua e refletindo nas tendas. Era o Brasil apoiado em tecnologia de ponta , orgulhoso da cultura caiçara. Era o Brasil consumindo cultura americana, francesa e alemã enquanto dançava maracatu sobre o luxuoso pé-de-moleque das vielas e antropofagiava as idéias nos lanches e almoços com orgulho de suas raízes. Um verdadeiro show do Brasil que queremos para muito além do futebol , assunto, aliás, tratado em mesa redonda que levava o bem sugestivo título de "Folha Seca" e que foi coroada com competente palestra de José Miguel Wisnik. Pode ter evento mais carregado de " elipses" e identidade ? Se as últimas aspas não ficaram claras para os mais jovens, sugiro uma pesquisa rápida no google sobre a vida de Valdir Pereira, nosso craque conhecido como Didi.

Passaríamos com louvor , não fosse a matéria publicada pelo jornal O Globo apontando a palestra de Tom Stoppard como a melhor da FLIP , uma palestra pífia que irritou a platéia do telão e praticamente não aconteceu, tal foi o descaso com o público pagante e com os '"sem ingresso" que lotavam todas as tendas e espaços alternativos para ouvi-lo. Penalty descarado. Não estou questionando aqui a vida e a obra de Stoppard, mas somos suficientemente pródigos em Conferencistas que fazem palestras no velho estilo " a Bangu", não precisamos importar esse tipo de mão-de-obra. Além de cara e inútil , fere a nossa dignidade.

Ao apagar das luzes, último dia da festa, um momento mágico.
Estava indo com o Dimas , querido amigo que me recebeu gentilmente em sua casa e a quem serei eternamente grata, a um coquetel de despedida da Flip na casa de uma moradora de Paraty. A casa ficava localizada numa esquina afastada e escura nos limites do Centro Histórico e era uma daquelas construções de arquitetura encantada, com portas e janelas amarelas e azuis, 3 degraus acima do nível do mar na entrada, para que a maré ao subir não atinja o nivel da sala e um jardim interno cheio de plantas e limos que estimulavam em todos uma avalanche de interjeições e adjetivos. Uma daquelas maravilhas da cidade! Quando estávamos quase chegando à porta, vimos deslizar das sombras de um beco próximo, um charmoso homem caminhando lenta e pensativamente. Trajava um elegante casaco e as mãos estavam ao abrigo do vento frio da noite , dentro dos bolsos. Os cabelos grisalhos e desalinhados davam à sua aparência uma espécie de versão pós-moderna de anjo barroco. Quando o lampião iluminou o rosto, uma voz com sotaque italiano, acompanhada de contido aceno de mão sussurrou:
- Ciao!
Respondemos com certa intimidade brasileira:
- Tchau!
Nos despedíamos ali de Alessandro Baricco, autor de SEDA, delicado livro recentemente degustado por indicação da Zezé, numa só longa noite, tamanho o fascínio que me despertou a história e o estilo do autor. Mais uma vez obrigada querida.
Ali estava ele, a um passo de nós, sem receio da noite estrangeira, dizendo adeus às encantadoras vielas da cidade, misturado aos inúmeros cães sem dono que vagueiam e dormem à noite nos umbrais dos velhos casarões. Caminhava de maneira simples e elegante, como a trama do seu surpreendente livro. Um inesperado e inesquecível encontro poético de fim de festa.

Bem meus queridos, muitos de vocês mais aquinhoados pela sorte do que eu , certamente já frequentaram a FLIP antes e puderam testemunhar situações semelhantes. A cidade de Paraty é nossa já conhecida pérola. Sediando esse evento, se transforma num tesouro de idéias e doces reflexões entre a Serra do Mar e o Atlântico. A Flip é o evento cultural mais elegante do qual já participei nesse pais e, segundo alguns autores presentes, um evento literário único no mundo. Tudo bem, a idéia não foi nossa, foi estrangeira, mas soubemos absorvê-la com dignidade e competência. Até hoje ouvimos críticas à sua concepção, mas convenhamos, o que quer que se diga não diminui o brilho da festa. Precisamos zelar por ela . Precisamos também, quem sabe, gerar outros eventos semelhantes. Nossa auto-estima agradece. Talvez um encontro reunindo artistas de todos os matizes e intelectuais de diferentes áreas do conhecimento, com palco interditado para políticos , chamado quem sabe de "A REDESCOBERTA DO BRASIL" ou "A REINVENÇÃO DO BRASIL", sediado em Santa Cruz Cabrália, mais precisamente em Coroa Vermelha, que tal? Oxalá pudéssemos reencontrar por lá não só a semente de nossa fé, como também a nossa urgente, bela e necessária destinação. Regra fundamental do encontro : implorar que nossos talentosos Artistas e Intelectuais esqueçam em casa seus apoteóticos egos.
Tudo bem, já sei que sonhei alto demais, mas sonhar ainda não custa nada e nem se configura como crime.

Lamento não tê-los visto por lá. No entanto, como diria Juquinha, um velho e querido amigo que perdi vitimado pela violência de nossas cidades, ANTES TARDE DO QUE MAIS TARDE.

Até a próxima FLIP.
Beijos

Boas vindas

Olá pessoal

Atendendo sugestões de clientes e amigos, compramos
um domínio na internet para que eu pudesse fazer a
minha página. Antes, porém, passarei um tempo exercitando
por intermedio de um blog, pois algo me diz que um
simples blog seria suficiente para o tamanho dos
meus negócios. O que eu for aprendendo por aqui
me será útil no projeto da futura página, caso ela se
revele realmente necessária.
Acho que vou gostar, ainda não tenho certeza.
Sinto necessidade de divulgar propostas de trabalho,
espetáculos, poemas , prosas e também de trocar
com vocês algumas alegrias e perplexidades.
Por outro lado ando muito ocupada e meio avessa a novos
compromissos, então não consigo imaginar quantas vezes
por mes conseguirei colocar informações por aqui.
Vamos deixar o trem partir e ver até onde chegamos.
Que nossa viagem, curta ou longa, seja útil e agradável
para todos.
Beijo carinhoso.